domingo, 31 de março de 2013

Adaptação e Individuação

“A progressão enquanto processo contínuo de adaptação às condições do mundo ambiente assenta na necessidade vital de adaptação. A necessidade compele o indivíduo a se orientar inteiramente para as condições do mundo ambiente e a reprimir aquelas tendências e virtualidades que servem ao processo de individuação.

A regressão, ao invés, enquanto adaptação às condições do próprio mundo interior, assenta na necessidade vital de satisfazer as exigências da individuação. O homem não é uma máquina, no sentido de que poderia manter constantemente a mesma produção de trabalho; pelo contrário, só poderá corresponder plenamente às exigências da necessidade exterior de maneira ideal, se se adaptar também a seu próprio mundo interior, ou seja: se entrar em harmonia consigo mesmo. E, inversamente, só poderá adaptar-se ao seu próprio mundo interior e estar em harmonia consigo mesmo, se se adaptar também às condições do mundo exterior. Uma ou outra função só pode ser negligenciada por algum tempo, como no-lo mostra a experiência, ou seja: quando só há uma adaptação unilateral, no exterior, enquanto o interior é negligenciado, tem lugar uma elevação gradual do valor das condições externas, como se pode ver na irrupção de elementos pessoais, na esfera da adaptação exterior. Assim fui testemunha, certa feita, de um caso dramático: um fabricante que subira na vida pelo próprio esforço e trabalho, tornando-se próspero cidadão, começou a se recordar de certa fase de sua mocidade, quanto tivera muitas alegrias com a arte. Sentiu necessidade de retornar a essas tendências e começou a desenhar modelos artísticos para a sua fábrica. O resultado foi que ninguém quis mais adquirir esses produtos artísticos, e nosso homem foi à falência em poucos anos. Seu erro consistiu em querer transferir para o exterior o que pertencia ao interior, por entender erroneamente as exigências da individuação. Um fracasso assim tão patente de uma função de adaptação parcialmente suficiente se explica por esta compreensão errônea típica das exigências externas.”

- C.G. Jung, A Energia Psíquica (OC 8/1), § 74-75

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