segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sexualidade x Espiritualidade, um debate

"O conflito entre ética e sexualidade, em nossos dias, não é uma mera colisão entre instintividade e moral, mas uma luta para justificar a presença de um instinto em nossas vidas e para reconhecer neste instinto um poder que procura sua expressão, e com o qual, manifestamente, não se pode brincar e que, por isso, também não quer se submeter às nossas bem-intencionadas leis. A sexualidade não é mera instintividade; é um poder indiscutivelmente criador que é não somente a causa fundamental de nossa existência individual, como um fator em nossa vida psíquica, a ser levado com muita seriedade. Hoje conhecemos, suficientemente, as graves conseqüências que as perturbações da sexualidade podem trazer. Poderíamos chamar a sexualidade de porta-voz dos instintos, e é por isto que o ponto de vista espiritual vê nela a sua principal antagonista, não, certamente, porque a tolerância sexual seja em si mesma mais imoral do que o excesso no comer e no beber, do que a avareza, a tirania e o esbanjamento, mas porque o espírito pressente na sexualidade uma contraparte de igual peso e mesmo afim a ele. De fato, do mesmo modo que o espírito gostaria de submeter a sexualidade, como todos os outros instintos, a seus próprios esquemas, assim também a sexualidade alimenta uma antiga pretensão sobre o espírito que ela, outrora – na procriação, na gravidez, no nascimento e na infância – trazia consigo e cuja paixão o espírito jamais poderá dispensar em suas criações. Que seria, afinal, o espírito, se existisse um instinto de igual peso a lhe contrapor? Seria apenas uma forma vazia. Uma consideração racional dos outros instintos se tornou uma necessidade axiomática para nós; mas com a sexualidade é diferente. Para nós, a sexualidade ainda é problemática. Neste ponto ainda não atingimos aquele grau de consciência que nos capacitaria a fazer plena justiça ao instinto sem danos morais sensíveis..."

- C.G. Jung, A Energia Psíquica (OC 8/1), § 107.

domingo, 31 de março de 2013

Beatle Jung


Adaptação e Individuação

“A progressão enquanto processo contínuo de adaptação às condições do mundo ambiente assenta na necessidade vital de adaptação. A necessidade compele o indivíduo a se orientar inteiramente para as condições do mundo ambiente e a reprimir aquelas tendências e virtualidades que servem ao processo de individuação.

A regressão, ao invés, enquanto adaptação às condições do próprio mundo interior, assenta na necessidade vital de satisfazer as exigências da individuação. O homem não é uma máquina, no sentido de que poderia manter constantemente a mesma produção de trabalho; pelo contrário, só poderá corresponder plenamente às exigências da necessidade exterior de maneira ideal, se se adaptar também a seu próprio mundo interior, ou seja: se entrar em harmonia consigo mesmo. E, inversamente, só poderá adaptar-se ao seu próprio mundo interior e estar em harmonia consigo mesmo, se se adaptar também às condições do mundo exterior. Uma ou outra função só pode ser negligenciada por algum tempo, como no-lo mostra a experiência, ou seja: quando só há uma adaptação unilateral, no exterior, enquanto o interior é negligenciado, tem lugar uma elevação gradual do valor das condições externas, como se pode ver na irrupção de elementos pessoais, na esfera da adaptação exterior. Assim fui testemunha, certa feita, de um caso dramático: um fabricante que subira na vida pelo próprio esforço e trabalho, tornando-se próspero cidadão, começou a se recordar de certa fase de sua mocidade, quanto tivera muitas alegrias com a arte. Sentiu necessidade de retornar a essas tendências e começou a desenhar modelos artísticos para a sua fábrica. O resultado foi que ninguém quis mais adquirir esses produtos artísticos, e nosso homem foi à falência em poucos anos. Seu erro consistiu em querer transferir para o exterior o que pertencia ao interior, por entender erroneamente as exigências da individuação. Um fracasso assim tão patente de uma função de adaptação parcialmente suficiente se explica por esta compreensão errônea típica das exigências externas.”

- C.G. Jung, A Energia Psíquica (OC 8/1), § 74-75

sábado, 30 de março de 2013

1º Simpósio de Psicologia Junguiana do Ceará

1º SIMPÓSIO DE PSICOLOGIA JUNGUIANA DO CEARÁ
QUANDO: 6, 7 e 8 de Junho de 2013;
ONDE: Universidade de Fortaleza.

TEMA CENTRAL:
"Psicologia Analítica: Origens, Percursos, Perspectivas"

EIXOS TEMÁTICOS:
1. História e Psicologia: A Psicologia Analítica nos séculos XX e XXI;
2. Psique, Psicoterapia e Saúde: A formação de uma subjetividade;
3. Arte, Cultura e Imaginário: As diversas expressões do humano.

CONFERENCISTAS:
Amnéris Maroni (SP) & Roberto Gambini (SP)

PROMOÇÃO: Universidade de Fortaleza;
REALIZAÇÃO: UNI for Jung, Sizígia e Labirinto;
ORGANIZAÇÃO: Ligare Eventos;
APOIO: Livraria Paulus.

PÚBLICO ALVO:
Profissionais de diversas áreas afins com a psicologia analítica, pesquisadores, estudantes e público em geral.

APRESENTAÇÃO:
Em 1913, Carl Gustav Jung (1875 – 1961), psiquiatra suíço, começa a definir as bases para sua teoria sobre a psique humana, num período na história em que o continente europeu é marcado por turbulências, conflitos e transformações sociais desencadeadores da I Guerra Mundial. Jung vivia outro embate, o confronto com o inconsciente: o “desconhecido em nós”. A partir de sua crise pessoal, das pesquisas com o teste de associação de palavras e do encontro com Freud, descortina-se esse “novo mundo”; emerge o material básico sobre o qual organizará sua própria psicologia. Reunindo suas experiências com os conhecimentos científicos da época, suas pesquisas e reflexões, Jung desenvolve um conjunto de formulações teóricas e práticas e lhe dá o nome de Psicologia Analítica.


Na atualidade, a Psicologia Analítica apresenta um modelo de compreensão da psique, uma proposta complexa de intervenção terapêutica e um corpo conceitual capaz de uma análise de temas sociais e culturais.

O 1º Simpósio de Psicologia Junguiana no Ceará, com seu tema central “Psicologia Analítica: Origens, Percursos, Perspectivas” visa promover uma aproximação de estudantes, professores e profissionais da realidade histórica e conceitual dessa ciência, ainda pouco conhecida nos meios universitários de nosso estado e do país. Pretende também ser um evento agregador de pessoas e grupos que estudam e trabalham com a Psicologia Analítica.

História e Renascimento

Não é tarefa fácil contar a história de qualquer coisa, pessoa ou acontecimento. O ponto de vista daquele que conta sempre tem um viés de sua própria personalidade, assim como para tudo que é dito ou escrito. Mas como algo precisa ser falado sobre o UNI for Jung para este blog, e eu estive envolvido em quase tudo que a ele se refere desde o seu início, corro eu mesmo este risco. E peço a quem desejar colaborar com acréscimos a estas linhas, que possa fazer seus comentários.

Fortaleza, Sábado 30 de março de 2013.

Sidarta Cavalcante



UM INÍCIO PELO MITO

O UNI for Jung é um movimento de universitários que nasceu em 2011, na Universidade de Fortaleza, Ceará, Brasil. Inicialmente, existia a simples vontade de estudar Jung e a Psicologia Analítica na academia. É importante frisar que esse interesse contou, desde o princípio, com o apoio da coordenadora do curso de Psicologia da Unifor, Profa. Patrícia Passos, que facilitou todas as coisas para nós, e toda a equipe da coordenação, principalmente Profa. Rosita e Carol.

A primeira iniciativa veio em agosto de 2011, através da Mitologia, quando eu, Sidarta Cavalcante, e Krishnamurti Ferreira tivemos a ideia de fundar um grupo de estudos autônomo: o GEMIOS (Grupo de Estudos em Mitologia & Simbolismo), formado apenas por alunos. Logo se juntaram a nós Neyla Moreira e José Lopes Neto, dentre outros colaboradores, em sua maioria estudantes de Psicologia.

Estudamos, debatemos e viajamos juntos com Joseph Campbell em seu livro Mito e transformação. É claro que, em alguns momentos, nós tivemos de colocar os pés no chão. Mas o mitólogo estadunidense, que em sua obra passeia pelos mitos gregos, egípcios, hindus, nórdicos, africanos, ameríndios, cristãos, budistas, etc., ele próprio estimula nossa imaginação ao fazer comparações entre todas essas histórias e a vida cotidiana. Contendo dois capítulos explicando de forma didática alguns dos conceitos junguianos, o texto foi para nós uma excelente porta de entrada à teoria do famoso (porém ainda incompreendido) psiquiatra suíço.